17 de novembro de 2018

Um Tratado difícil

Por José Carlos Sá

Aqui em Rondônia os 115 anos do Tratado de Petrópolis não estão sendo comemorados. Foi pela ação do Barão de Rio Branco que o governo brasileiro passou a ser obrigado a, finalmente, se preocupar em construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, cujas obras se iniciaram em 1907 e foram concluídas em 1912. Sem esta ferrovia, a história de Rondônia seria outra.  No Acre a data é feriado estadual.

Um “Barão” (Fonte Internet)

Entre os trabalhos desenvolvidos no Itamaraty por José Maria da Silva Paranhos Junior, o Tratado de Petrópolis talvez tenha sido um dos mais difíceis de se chegar a um bom resultado para o Brasil. É o que conta o livro, lançado pela Companhia. das Letras em setembro de 2018, “Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco“, de Luís Cláudio Villafañe. A obra conta a vida turbulenta do “Junior”, filho do Visconde de Rio Branco, primeiro-ministro do Brasil e deputado do Partido Conservador, que morreu com o desgosto ao ver que os rumos profissionais e familiares (José Maria se casou com uma sueca, dançarina de cabaré) tomados pelo herdeiro.

(Fonte ECOACRE)

Voltando ao Tratado de Petrópolis, os brasileiros invadiram uma região da Bolívia – que hoje é o Estado do Acre -, que também era disputada pelo Peru, em busca de seringueiras a partir de 1877. Além de nordestinos, também gaúchos e pessoas de origens diversas se somaram em busca da extração da borracha, entranhando cada vez mais em terras bolivianas. A Bolívia, por sua vez, arrendou as terras ao Bolivian Syndicate, controlado por capitais ingleses e norte-americanos. Mas a revolta por parte dos invasores só começou mesmo quando os bolivianos resolveram cobrar impostos. Aí começou uma guerra, em que o Brasil teve que tomar partido do país vizinho.

Foto após a assinatura do Tratado de Petrópolis (Acervo do Museu Histórico Nacional – RJ)

Para evitar mais derramamento de sangue, o Barão de Rio Branco – a esta altura já com fama de bom negociador – propôs um acordo direto, com a indenização ao Bolivian Syndicate de 114.000,00 libras esterlinas; a desistência pelo Brasil da reclamação de outra terra mais ao norte; e a construção de uma ferrovia margeando os rios Madeira e Mamoré, para escoar a borracha boliviana na região do Beni. Este acordo foi muito criticado pela imprensa à época e o próprio barão escreveu artigos, assinados com um pseudônimo, defendendo a solução encontrada. O Tratado foi assinado na cidade de Petrópolis em 17 de novembro de 1903. Daí surgiu a Estrada de Ferro-Madeira-Mamoré, Porto Velho, o Território do Guaporé, o Território de Rondônia e, finalmente o Estado de Rondônia.