“O povo gosta do boato. Sente prazer em conhecer e transmitir a outrem informação que sabe de antemão ser mentirosa. Mesmo assim, isso lhe dá prazer, mesmo como chefe de um governo discricionário, terei o direito de tirar ao povo um prazer que nada lhe custa?” A pergunta foi feita pelo presidente Getúlio Vargas, em plena revolução de 1932, quando os paulistas se insurgiram contra o golpe que Getúlio comandou dois anos antes, quebrando a hegemonia café-com-leite, onde mineiros e paulistas se alternavam na presidência da República. Encontrei esta opinião no livro ‘1932 – São Paulo em chamas’, de Luiz Octavio de Lima, que a Marcela me presenteou.
A fala de Getúlio e o contexto dela são bem atuais. Na revolução de 1932 havia a disseminação de boatos dos dois lados – constitucionalistas (paulistas e contrários a Getúlio) e o Governo Federal. Enquanto os revolucionários espalhavam que estavam recebendo apoio de todo Brasil e que em breve tomariam o poder, os getulistas proclamavam que a ideia de São Paulo era se tornar independente, se transformando em um outro país. Da mesma forma que vemos hoje, na campanha eleitoral, os dois lados usavam declarações do oponente, em contexto diferente daquele original, para conquistar o povo. Havia, sim, um movimento “separatista”, mas era limitado a poucos simpatizantes, mas o Governo Federal transformou aquilo em uma peça publicitária, cuja mensagem você, leitor, verá que é contemporânea:
“Pelo rádio e pelos jornais lembrava-se que o estado [São Paulo] havia recebido nas décadas anteriores vastos contingentes de imigrantes, e que agora, tendo metade da população com origens italianas, estaria empenhado em implantar um apêndice do regime fascista de Mussolini no território nacional.” Em outra frente, a voz de um ator imitando o sotaque paulista, era colocada no ar com uma mensagem em que pregava o banimento da religião católica e a dominação comunista no Brasil. O impacto no Nordeste foi grande. Foi o início da derrota dos revoltosos