Com um atraso de quatro dias, registro a morte do radialista Dirceu Pereira, em Belo Horizonte. Cresci ouvindo e
vendo o Dirceu Pereira nos programas que ele apresentava, primeiro na Rádio Itatiaia, depois na Rádio Guarani e nas TVs Itacolomi e Alterosa. Fui a alguns dos programas, como “Cidade contra Cidade”, que era uma espécie de gincana entre cidades mineiras. Lembro também do programa “Brasa 4”, bem mais antigo, que imitava a “Jovem Guarda”. Dessa época ficou gravado um dos conjuntos de rock que fez sucesso, os “Analfabitles”, ou ‘analfabítôus’.
O meu segundo emprego como jornalista foi na TV Alterosa, no “Jornalismo 5”. O programa foi criado à toque de caixa para substituir “O Povo na TV”, apresentado por Dirceu Pereira. O programa era o mundo cão multiplicado por cinco e foi tirado do ar por determinação da Vara da Infância (ou equivalente), quando uma mãe não conseguindo internar o filho doente na rede pública de saúde, levou o menino ao programa, onde a criança morreu, durante a apresentação ao vivo (trocadilho involuntário). A emissora obrigou Dirceu a apresentar um programa de variedades e o jornalismo ficou conosco. O problema é que o programa era ao vivo com auditório e todas as vezes que entrávamos no palco do DP, a plateia nos vaiava, mesmo que ele pedisse para que não fizessem isso.
O Dirceu Pereira era destes profissionais que dominava qualquer função à frente de câmeras e microfones. Com a mesma desenvoltura que comentava um jogo de futebol, apresentava um programa de calouro. Lembrei agora de uma passagem. Ele apresentava um programa matutino na Rádio Guarani em que o ouvinte é quem pedia a música. Para isso, a “unidade móvel” trazia a voz das ruas. Neste dia eu estava ouvindo o programa, foi mais ou menos assim:
Repórter: – Dirceu, estamos aqui na praça da Liberdade e vamos falar com um guarda de trânsito… O senhor ouve a Rádio Guarani?
Policial: – Ovo!
Dirceu, do estúdio, interrompeu a entrevista: – Pergunta aí pro cidadão que música que ele quer “ôvi” na Rádio Guarani…