16 de abril de 2015

DO PASSADO

Por José Carlos Sá

A tentativa de suicídio com água sanitária me fez lembrar:

Era início de 1991, verão portanto, apareceram casos de cólera em Porto Velho. O ponto vulnerável da cidade era o porto do Cai N’Água, com as barraquinhas de comida construídas nas barrancas do rio, onde se alimentavam os passageiros no embarque e desembarque, os tripulantes dos barcos e os estivadores que ali trabalhavam.

Nesta foto de Neinho Mangeon, muito depois, a coisa estava organizada…

Uma das recomendações repassadas à população pelas autoridades era o uso do hipoclorito de sódio na água de beber e  a higienização de locais – barcos, por exemplo – com a água sanitária.

Pouco tempo depois dessa crise, recebi como pauta apurar denúncia que uma determinada marca de água mineral estava contaminada. De posse da cópia do laudo fui à Caerd. Ninguém quis falar comigo, apesar da assinatura no papel era de um biólogo da estatal. Para não perder tempo, perguntei a outro técnico, usando os meus conhecimento de química do colégio: “Só responde para mim sim ou não”. Ele balançou afirmativamente a cabeça. “Aqui está dizendo que esta água precisa ser fervida”. Outro aceno positivo. “Se tem que ferver, deixa de ser água mineral”. Acertei de novo! Agradeci e fui embora.

Fui na Vigilância Estadual, para saber se eram eles quem tinham que fiscalizar aquilo. “É sim, mas somos poucos, não dá para ver tudo. É impossível fiscalizar a água sanitária…” Atalhei, “água mineral”. “É a mesma coisa. Teríamos que ver isso da água sanitária…” “Água mineral” “Pois é, água sanitária”.

Eu o interrompi e perguntei: “Por que você está repetindo toda hora água sanitária?” “Desculpe. É porque nós acabamos e fechar três fábricas de água sanitária, que estavam com a composição química irregular no produto”. Tchan! “Esquece a água mineral e me fala da água sanitária”. Furo!

Depois fiquei pensando o perigo pelo qual passamos. A assepsia dos ambientes, que era feita com água sanitária fabricada em Porto Velho (aquelas fechadas pela Vigilância), não limpava nada. Os produtos tinham menos de 25% de cloro, que é a quantidade regulamentada. Lavávamos o chão com a água apenas com a essência de cloro para dar o cheiro. Se o vibrião soubesse…

 

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caerd Cai N'Água Cólera Porto Velho Vigilância Sanitária 

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