Lendo a coluna “Opinião de Primeira”, do Sérgio Pires hoje, onde ele fala do abandono de Guajará-Mirim e das péssimas condições da BR-425, tenho que concordar quando afirma que a região só é lembrada na temporada de caça aos votos. Depois disso, na entressafra, os políticos eleitos desaparecem. Estou falando de uma forma geral.
Fiquei pensando no acesso até aquela cidade. A BR-425 nasceu da extinção da Ferrovia Madeira-Mamoré. O 5º BEC veio para Rondônia em 1966 com a missão de construir uma estrada rodoviária para impedir que as pessoas que moravam ao longo e no terminal da antiga estrada de ferro, e mais o Acre, não ficassem isoladas. O trabalho foi sendo feito paulatinamente e nunca acabou.
As pontes de ferro, que foram trazidas dos Estados Unidos, deveriam ter sido substituídas, há muito, por outras de concreto, o que só aconteceu na BR-364, entre Porto Velho e Abunã. Estas também demoraram muito para ficar prontas. As pontes previstas para o trecho BR-364 – Guajará-Mirim não foram todas construídas. Até hoje usamos as pontes ferroviárias sobre o rio Araras e sobre o Ribeirão, tendo ao lado delas os esqueletos das pilastras que sustentariam as natimortas pontes.
Lembro-me, ao chegar aqui, ouvir histórias sobre os comboios que o governo do Território e depois do Estado formava para levar comida, água potável e combustível para as populações de Guajará-Mirim e outras localidades ao longo do antigo traçado.
A rodovia ficou pronta, seguindo praticamente o mesmo caminho da EFMM, derivando da 364, a poucos metros da vila de Abunã. Já na passagem dos anos 80 para 90, foi decidido pelo Governo Federal uma alteração no traçado da BR-425, que começaria alguns quilômetros antes do local original, reduzindo a distância até Guajará-Mirim. A rodovia foi asfaltada pelo prefeito Isaac Bennesby, com recursos municipais. O Tribunal de Contas meteu um processo nele, que foi obrigado a devolver o dinheiro gasto e a pagar uma multa imensa. Tudo do próprio bolso,
Eu estava perto quando o então governador Jerônimo Santana comentou sobre esse assunto: “Falei pro general, a estrada vai dar num pântano. Ele insistiu na ideia, então deixei prá lá”. E a estrada não fica pronta, é como se o pântano do Jerônimo sugasse todos os esforços para concluir a rodovia. Ô boca, Jerônimo, ô boca!