Lamento o falecimento do escritor e poeta Manoel de Barros. Mato-grossense de Cuiabá, foi menino para o Pantanal, onde se formou para a vida. Sou fã do poeta há pouco mais de dez anos. Li a sinopse do livro “Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo” (2001, Editora Record), em uma destas revistas de bordo e me apaixonei pelo velhinho. Comprei o livro pela internet, pois não encontrei nas livrarias da cidade e fiquei aguardando ansioso.
Era diferente de tudo o que eu tinha lido. O poeta, como ‘delata’ o nome do livro, se preocupava com as coisas ínfimas, como a asa de uma mosca, um fio de cabelo no canto da parede ou com a poeira se acumulando nos móveis. Manoel de Barros enxergava os passarinhos, as cigarras, as lesmas, as pedras e o rio. Especialmente o rio.
Gosto muito destes versos: “O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa / era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. / Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. / Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. / Era uma enseada. / Acho que o nome empobreceu a imagem.”
Depois li outros, “O Livro das Ignorãças”, “Livro sobre o Nada”, “Memórias Inventadas”, além de pesquisar sobre ele e assistir entrevistas, sempre com o sabor de novidade que senti ao ler o “Tratado”.
E o Brasil perde mais um grande brasileiro, mesmo que ele não quisesse ser.