Lamento a morte do ex-governador Jerônimo Santana, que já estava com a saúde bastante debilitada, e, nos últimos anos, o ostracismo fez com que ficasse mais crítica. Mesmo tendo ele buscado o exílio em Brasília, acusava os seus correligionários, em particular, e o povo de Rondônia, de um modo geral, de tê-lo abandonado.
Eu o conheci às vésperas das eleições de 1987, quando renunciou à Prefeitura de Porto Velho, e fui à posse de Tomás Correia. Depois, como tantos outros, entrei na campanha eleitoral, quando o então governador Ângelo Angelim mobilizou a “máquina” para eleger o Bengala, como era conhecido.
O prêmio que Angelin ganhou – após ter elegido Bengala – foi ser banido para Vilhena, não tendo sido, sequer, convidado para a inauguração do Cemetron – o Centro de Medicina Tropical de Rondônia, que já estava pronto quando Jerônimo assumiu. Todos os assessores de cargos de confiança do governo Ângelo Angelin foram exonerados no primeiro ato de governo. Isso é uma rotina. Mas não foram poupados nem aqueles que mais se dedicaram à campanha política.
Depois houve outros percalços. Jerônimo dividia o PMDB em vários clãs: O PMDB do Orestes (vice-governador), o PMDB do Amir Lando, o PMDB do Paulo Araújo e assim por diante. Dando a cada um deles o peso que acreditava valerem.
A minha convivência com ele foi grande e distante ao mesmo tempo. Eu era assessor de imprensa do vice-governador e via o governador sempre, mas ficava no papel de assessor, fazendo parte da paisagem e falando se perguntassem. Ocasionalmente cobria os colegas do Decom em algum evento ou no interior, quando não podiam ir.
A passagem mais marcante foi após a eleição que definiu o sucessor de Jerônimo, Osvaldo Piana, e antes da posse – nesta época a transmissão de poder era em março. Estava eu na Vice-Governadoria olhando para o tempo, quando a recepcionista chamou-me e passou a ligação da secretária do governador:
– José Carlos, o governador está chamando você aqui na Sudeco (“Palácio dos Despachos”, que Jerônimo usava por superstição ao Palácio Getúlio Vargas, onde eu ficava).
– Está me chamando? Você tem certeza?
– Você não é o José Carlos, assessor de imprensa do vice-governador?
– Sou, mas o governador está chamando?
– Isso. Posso dizer que você está vindo?
– Pode. Estou saindo.
Cheguei esbaforido ao gabinete do governador. Não tinha guarda, recepcionista e nem a secretária dele estava lá. Todas as portas estavas abertas. Fui entrando. Da sala da secretária dava para ver, na outra sala, uma ponta da mesa com pés em cima. Bati na porta e ele mandou-me entrar.
– Tudo bem, Zé Carlos (não sabia que ele sabia o meu nome)?
– Tudo, governador e o senhor?
– Você sabe do Carlos Henrique[Ângelo]?
– Soube que está de férias…
– E o Abdoral [Cardoso]?
– Viajando, governador.
– Tá vendo o que é fim de governo? Todos me abandonaram..
Em seguida ele pediu que eu escrevesse alguma coisa sobre o Ministério da Previdência para ser publicado no final de semana seguinte. Fiz o texto, entreguei à secretária e não o vi mais até uma campanha eleitoral já em meados dos anos 2000. Nos encontramos algumas vezes, quando ele foi embora para Brasília e acabou-se a história.
Que sua alma repouse em paz.