O tempo em que estou em Rondônia é o tempo que conheci a jornalista Fátima Alves. Chegamos com poucos dias de diferença. Ela, vindo da Paraíba junto com a Edineide Arruda, e eu, vindo de Minas Gerais. Fomos trabalhar juntos no Decom, onde fiquei até novembro de 86, passando, então, para a TV Educativa. No governo seguinte, Jerônimo Santana, voltamos a nos unir na recém- criada Secretaria Extraordinária de Comunicação, que de ‘extraordinária’ só tinha o secretário, Ascânio Seleme, que se achava. A Fátima exerceu a chefia de Gabinete. Fui em outro rumo, mas sempre que nos víamos eram abraços sinceros de amizade. “Olha o meu bichinho, como está bonito!”, ela exagerava.
Em 1993, no sufoco dos governos Collor e Piana, fui surpreendido no Decom com uma ligação dela. Estava voltando para a Paraíba e iria me indicar para a Assessoria de Imprensa da Fiero. Ressaltou: “Meu bichinho, se você não quiser ou não puder, não tem problema, mas não indicarei ninguém além de tu”. Agradeci, fui lá e deu certo. Sou eternamente grato por esta oportunidade.
Anos depois, ao voltar para Rondônia, trabalhando em lugares diferentes só nos viámos pelas ruas, em eventos. A alegria dos encontros permaneceu sempre a mesma. No governo Bianco, tive o prazer de retribuir a generosidade, indicando-a para a Assessoria de Imprensa da Faser. O cargo parecia ter sido reservado para ela. Foram muitas ações – fora da área de AI – que a Fátima realizou.
Acompanhei de longe a trajetória da Fatinha na assessoria da Prefeitura e sabia o que estava sofrendo. O jogo é bruto. E ela foi vítima desta brutalidade.
Eu a vi recentemente – talvez semanas antes de ser internada. Fui à Coordenadoria de Comunicação levar alguma coisa e a encontrei. Estava ao telefone e joguei um beijo de longe. Ele pediu um tempo ao interlocutor, levantou-se e me deu mais um daqueles abraços e a frase que me animava: “Olha o meu bichinho! Como tá bonito!”.
Meu bichinho, você que é uma das pessoas mais bonitas que já conheci. Felizmente tive a oportunidade de dizer isso a você ainda em vida. Ficam as saudades dos momentos de pressão; de contrariedade (reescrever texto é chato, reconheço, mas é necessário); de cansaço – ô estado grande, esta Rondônia; das conversas sem pé nem cabeça nas intermináveis estradas de poeira; da cerveja bebida com gosto, pois o dinheiro era pouco e só dava para uma ou duas; e do seu sorriso, das suas gargalhadas na redação; da suas defesas ao PT e, intransigentemente, à mulher.
Vai descansar meu bichinho. Rezamos por você.
(Na foto, Fatinha me entrevista)