17 de dezembro de 2009

NÃO FUNCIONA

Por José Carlos Sá

Dona Docarmo foi quatro vezes, a Mar foi uma e eu, meio que sem jeito, tentei um tráfico de influência, mas como não tenho nenhuma, não funcionou. Banzeiros, nem pensar. Isso tudo para que a Emdur – empresa que “cuida” da iluminação pública – trocasse uma lâmpada de um poste que, há anos, está queimada.
Persistente, dona Docarmo foi lá ontem, mais uma vez. Saiu do trabalho às 13h, correu para a parada, pegou o ônibus e correu de novo para encontrar a autarquia aberta. Esperou no balcão até que aparecesse a funcionária.
– A senhora pode me atender?
– Só um instante, acabei de engolir [a comida] agora.
– Tá certo, estou engolindo há muito tempo…

– Me dê o número do protocolo.
– Pode escolher entre os cinco…
-A senhora espera um pouco, que a pessoa que vai carimbar o processo não está aqui.
Enquanto esperava o(a) carimbador(a), dona Docarmo conta que a mulher foi serrar* as unhas. Meia hora depois só apareceu outra funcionária que disse: “Ó, que bom! Você trouxe a serra de unhas e eu trouxe o esmalte!”
Dona Docarmo desistiu e foi embora. Passou na loja, comprou uma lâmpada e pagou 30 reais para um vizinho instalar a iluminação, como os outros moradores da Rua Guarujá já fizeram. Dona Docarmo, como muita gente nesta cidade, neste Estado e neste país desistiram do Poder Público.
Mas não podem deixar de pagar pelos serviços públicos não prestados.
(*Serrar as unhas em portovelhês é lixar as unhas)