04 de dezembro de 2023

Está tudo aqui – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

Está tudo aqui: gafes, tiradas inteligentes e superação (Foto JCarlos)

Ler este livro foi como retornar no tempo em que eu participava de campanhas políticas no interior de Rondônia, entre 1986 e 2006, e presenciei muitos fatos que, contados, me fazem passar por mentiroso. Coisas que até o Gabriel Garcia Márquez duvidaria.

Sempre gostei dos bastidores. Nos comícios, não ficava no palanque, mas entre o povo, lá atrás, ouvindo e prestando atenção às reações. Também gostava de assistir às negociações pré-comício  de quem ia falar e em que ordem. Era um consenso dificil de ser conseguido…

O jornalista e especialista em marketing político Frutuoso Oliveira, autor do delicioso “Está tudo aqui – histórias curiosas, cômicas e folclóricas da política catarinense contemporânea” (Carbo Editora, Florianópolis, 2023) conhece muito bem os bastidores das campanhas políticas e selecionou 35 causos que ele viveu ou ficou sabendo durante a jornada como assessor de imprensa, marqueteiro e repórter.  A leitura é rápida e saborosa. Li o livro de uma sentada, durante uma tarde de domingo, daquelas em que o Djavan recomendaria para atividades literárias.

Destaco duas crônicas, pois foram as que me fizeram rir mais. Em ‘O general e o capitão’ o autor conta um sucedido na cidade de Matos da Costa, que fica na divisa entre Santa Catarina e o Paraná, bem no centrinho de onde aconteceu a Guerra do Contestado, quando os dois estados disputavam a região. O nome da cidade é homenagem a um capitão que morreu na contenda. Vizinho, mas do outro lado da linha demarcatória interestadual, fica o município paranaense de General Carneiro.

Questão de hierarquia: general é mais que capitão! (JCarlos/Google)

Pois bem, no início da década de 1970 os general carneirenses  receberam a instalação da energia elétrica e os matos-costenses continuavam no escuro. Os cidadãos catarinenses procuraram o deputado estadual da região que se saiu com essa: “Calma, pessoal. Vocês precisam entender que nós estamos vivendo sob o regime militar. E no regime militar existe hierarquia. Como vocês pensam que a energia elétrica seria instalada em Matos Costa, que é um simples capitão, e depois em General Carneiro? Primeiro lá, depois em Matos Costa. Assim é a hierarquia militar”.  E o problema foi resolvido.

O beijo no anão

A crônica do beijo foi outra crônica que me fez rir alto, quebrando o silêncio da tarde de domingo. Frutuoso ouviu do ex-deputado Mário Cavallazi a história de um pretendente a deputado estadual, noviço na política, que leu o “manual do candidato” e fez tudo o que dizia o compêndio: apertar a mão de todo mundo, aparecer até em batizado de boneca, além de colocar no colo menino de fundo cagado (essa parte é por minha conta, não está no livro, mas no manual).

Numa dessas refregas, o aspirante deputadal pegou um menino no colo e tascou-lhe um beijo na bochecha. Para surpresa, ouviu uma voz grossa do osculado: “Me coloca no chão, seu filho da *uta!” Era um anão que foi confundido com uma criança…

E outras histórias

Desembargador João Henrique Blasi (dir) com o autor. Ele foi deputado estadual e estava presente na derrota de Jorginho Melo como presidente da ALESC (Foto arquivo pessoal Frutuoso Oliveira/Facebook)

O autor também conta outras histórias, como a única derrota do atual governador de Santa Catarina, Jorginho Melo, que se candidatou a presidente da Assembleia Legislativa em 2001 e num erro de estratégia, foi derrotado por WO. Também há os causos do ex-governador Carlos Moisés que inspirou o outro livro do autor, “Conversas em Biguaçu“. Moisés é um exemplo de como NÃO se deve fazer política. O cargo de governador caiu no colo dele e o cara se atrapalhou todo…

Reno Caramori, foi deputado estadual por seis mandatos e ex-prefeito de Caçador (SC). O autor o assessorou e conta histórias relacionadas ao político (Foto arquivo pessoal Frutuoso Oliveira/Facebook)

Após a leitura ficou um dúvida jornalística. Na crônica “O prefeito que ganhou sozinho”, Frutuoso conta a história de um candidato, que ganhou a prefeitura de São José do Sul, no Rio Grande do Sul pelo PDT. Ele foi eleito, mas o partido não elegeu nenhum Vereador. Me perguntei: Como esse cara conseguiu governar? Ou não conseguiu?

Recomendo o livro.

Tags

Crônicas Guerra do Contestado Paraná Política Santa Catarina 

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