10 de abril de 2023

Um currículo recheado

Por José Carlos Sá

Li, há alguns dias, que a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) concedeu ao cantor, compositor, ex-ministro da Cultura e imortal da Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil, o título de Doutor Honoris Causa. À justificativa que o reitor Irineu Manoel de Souza apresentou ao Conselho Universitário para conceder a honraria, foi anexado “um currículo resumido do cantor, com mais de 20 páginas sobre sua vida e feitos marcantes”, como ressaltou o release distribuído pela assessoria de imprensa. Fiquei pensando no tamanho do curriculo completo.

E como pensamento-puxa-pensamento, me lembrei do período em que eu prestava o serviço militar na FAB, lá no Parque de Aeronáutica de Lagoa Santa, na ‘Esquadrilha’ de Pessoal (na Aeronáutica as nomenclaturas dos departamentos remetem aos ares ou têm o sufíxo “aer”).

Modelços de folders (Reprodução)

Pois bem, por uma razão qualquer, os suboficiais e sargentos tiveram que atualizar os cadastros pessoais e fiquei responsável por receber os currículos atualizados dos militares graduados. A maioria entregou duas a três folhas de papel A-4 datilografadas contendo os cursos concluídos ou que frequentavam. Alguns poucos levaram a atualização manuscrita em papel almaço (lembram o que é?) e um único, um 1° sargento entregou um folder impresso em papel couchê, com oito dobras!

Aquilo me impressionou. Li todo o folheto e comentei com os meus colegas de setor – cabos e sargentos: “Não sei a hora que o sargento Fulano tem para viver”. Ele fazia parte da Maçonaria, do Rotary, do Lions, da Ordem Rosacruz (os que me lembro agora), tinha cursos de um monte de coisas, entre eles de Esperanto, Latim e “Línguas Mortas”. O cabo Evaristo respondeu: – Me sinto humilhado. No meu currículo só tem a conclusão do segundo grau e olhe lá!

O meu currículo completo (Reprodução)

Para encerrar o assunto, mas não perder a piada, disse que eu iria datilografar o meu currículo e que eles aguardassem. Em uma folha em branco, datilografei: “CURRICULO VITAE – JOSÉ CARLOS DE SÁ JUNIOR – 1981”. Em outra página, bem centralizado e também em caixa alta, só três palavras: “NADA A DECLARAR”.
A brincadeira chegou ao conhecimento do sargento, aquele do folder, que não gostou nada da piada. Os demais quase ‘morreram’ de rir!

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