06 de abril de 2023

O simbolismo de uma herma

Por José Carlos Sá

O busto não é o mesmo de 1923, mas a ideia é reivindicar e avivar a memória do poeta Cruz e Sousa (Foto JCarlos)

Foi altamente simbólica a comemoração do centenário de instalação do busto (também chamado de herma) do poeta João da Cruz e Sousa (1861-1898) que atualmente está nos jardins da praça XV de Novembro, no centro histórico de Florianópolis. A iniciativa partiu do professor Fábio Garcia, da Editora Cruz e Sousa e teve apoio da Fundação Cultural Franklin Cascaes.

O encontro reuniu representantes de movimentos negros, parlamentares e pessoas ligadas à cultura. O organizador do evento, Fábio Garcia, leu um breve histórico sobre o monumento, que foi fundido em bronze no Rio de Janeiro, custeado a partir de doações financeiras angariadas pelos membros do Centro Cívico Recreativo José Boiteux, para marcar o 25°do falecimento do poeta Cruz e Sousa. “O evento organizado pela diretoria do clube, exclusiva à população negra, reforçava o prestígio social de homens e mulheres negras, diante de uma sociedade marcada pela segregação racial em diversos espaços de poder e de convívio social. A abolição da escravatura, ocorrida 35 anos antes, ainda era uma ferida aberta e em uma sociedade que ainda demarcava lugares, condutas, modos de ser e estar”, lembrou.

Mais adiante disse que “é preciso capacitar a nossa gente para que saibam dos nossos direitos: direito à liberdade, à educação de qualidade, a empregos de qualidade, a salários dignos, à moradia”. E completou: “Por que não reclamar o direto à memória? E este direito que reclamamos hoje, no centro histórico de Florianópolis. O direito à memória do poeta Cruz e Sousa e hoje esse busto completa seu primeiro centenário”.

O busto foi instalado inicialmente no Largo Benjamin Constant, também na região do centro de Florianópolis. O monumento foi diversas vezes danificado e arrastado pelas ruas da capital por vândalos “que eram rapazes da sociedade”, explicou Fábio. Foi preciso que a prefeitura fosse acionada para recolocar a herma no lugar original. Alguns anos depois o busto foi instalado no centro da praça XV de Novembro juntamente com as imagens do pintor Victor Meirelles, do jornalista Jerônimo Coelho e do jurista José Boiteux.

As quatro esculturas foram furtadas e o bronze de que eram feitas foi derretido. A prefeitura de Florianópolis mandou fazer réplicas dos bustos originais. No caso do pedestal em que estava a imagem de Cruz e Souza, não foi substituída a alegoria que existia, a figura de uma mulher, de braços abertos, representando a liberdade.

Declamando poemas

A segunda parte da homenagem contou com vários presentes declamando poemas de Cruz e Sousa, sobre ele e para ele. Destaque para os atores JB Costa – que comumente representa a figura do poeta – e de Alípio de Brito, que declamaram poemas com forte entonação teatral, valorizando ainda mais os versos. Também houve apresentação musical com os temas ligados à negritude e ao homenageado.

Esperei para o final, quando houvesse pouca gente, para fazer a leitura de um poema que gosto particularmente: Escárnio perfumado, em que o autor aguarda notícias da pessoa amada e vai inutilmente aos correios, se sentindo um verme. Só quem já namorou por correspondência sabe o que é sentir esse desespero!

Bem-te-vi faceiro, aproveita a audiência para fazer pose (Foto JCarlos)

Adriano de Brito, JB Costa e Fábio Garcia fazem os ajustes finais antes do evento (Foto JCarlos)

A professora e escritora Jeruse Romão lê poema em homenagem a Cruz e Souza (Foto JCarlos)

A poeta Ana Esther leu um texto poético de sua autoria, inspirado em poema de Cruz e Sousa (Foto JCarlos e Ana Esther)

Ousando ler um poema (em voz alta e em público) de Cruz e Sousa (Foto Ana Esther)

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Cruz e Sousa Editora Cruz e Sousa Fábio Garcia JB Costa Jeruse Romão Praça XV 

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