Sou fã do Moacyr Franco como comediante, apresentador, compositor e cantor. Partindo dessa premissa, sempre vejo as notícias relacionadas a ele que aparecem nos sites em que estou navegando. Ontem, por exemplo, estava procurando algo no Instagram e em uma das janelas na página de busca apareceu uma fotinha dele e eu cliquei automaticamente, assistindo a um trecho de uma entrevista em que contava o surgimento da marchinha “Me dá um dinheiro aí” em 1959. Fui atrás da entrevista inteira e cheguei ao canal do jornalista André Piunti , de quem nunca ouvi falar, no YouTube (O link está nos comentários).
Além de conhecer como surgiram diversos sucessos que ouço desde que era criança, também conheci o lado humano do Moacyr. Um cara estremamente rancoroso com as pessoas que gravaram as músicas dele, fizeram sucesso e não o procuram mais. Citou várias duplas sertanejas antigas e atuais, apenas livrando a cara do cantor Daniel, a quem fez elogios por sempre manter contato. “Essas mágoas [Faz o sinal de aspas com os dedos indicadores] não são mágoas de inveja e de vaidade. São pelo valor que eu dou à a-mi-za-de [separando as sílabas]. Para mim não tem como você viver sem amigos, não tem”.
Uma história que Moacyr Franco contou inteira, e que eu já havia visto uma parte em outro vídeo, foi de como a dupla João Mineiro e Marciano pediu autorização para gravar “Seu amor ainda é tudo”. A música foi feita quando o irmão dele se separou da mulher e foi dormir em sua casa. Vendo o cara bêbado, dormindo no sofá da sala, Moacyr imaginou ele reencontrando a mulher “numa cena de cinema”, como diz que fantasiou: “Eu pensei nos dois se encontrando em um ponto de ônibus. Ele com uma capa de chuva, dessas de plástico, rasgada; ela com uma sombrinha, uma marmita. Uma coisa Brasil. Imaginei essa cena – Muito prazer em revê-la, você está bonita. Muito elegante, mais jovem, cheia de vida… Se você ver, observar [se dirigindo ao entrevistador], é um diálogo de filme. Eu ainda falo de flores e declamo seu nome, mesmo meus dedos me traem e discam o seu telefone…”.
Moacyr cantava em um circo quando Marciano o encontrou. “Foi uma época em que eu voltei de deputado [dá três pancadas na madeira]. Foi uma desgraça. Fui um péssimo deputado… A pior coisa da minha vida, atrasou minha vida em tudo, tudo, tudo… E acabei cantando no circo, fazendo excursões em uma [Chevrolet] Caravan 78, amarela. Andei o país naquela Caravan, enfim. Nesse circo João Mineiro vai lá com o Marciano e querem gravar uma música, que eu nem lembrava mais a letra dela. Autorizei e eles sairiam de lá eufóricos e a música foi um sucesso”.
Atualmente com 86 anos, ele continua compondo e mostrou ter uma memória muito boa. Boa demais. Um dos fatos narrados foi um encontro com o papa Paulo VI (foi papa entre 1963 a 1978). Moacyr conta que no dia da audiência estava muito nervoso e não sabia em que idioma Sua Santidade falaria. “Ele pegou minha mão e botou no meio das dele e ficou olhando prá mim e eu pensei “Jesus e agora? Italiano, francês, inglês… que diabo que eu vim fazer aqui?” Aí ele falou assim [Imitando]: – Como está o Maranhão? Hehehe, tudo resolvido. Ele tinha morado lá em Tuntum”. Eu não consegui confirmar esta informação nem no site da Prefeitura de Tuntum, nem no site da Paróquia de São Raimundo Nonato, responsável pelos fiéis do município. Acho que uma informação dessa, de que um padre que passou por uma cidade do interior e virou papa não ficaria oculta. Reproduzi assim mesmo por que a história não é minha…
Foi muito interessante saber da história do cara, mas achei o Moacyr Franco muito sentido e amargurado por não ter o reconhecimento merecido. Repetiu várias vezes que ninguém se lembra dele, não foi incluído em nenhum livro sobre músicas ou artistas brasileiros e que escreveu um roteiro para dar uma entrevista aos filhos dele – que moram nos Estados Unidos -, numa espécie de autobiografia. Aguardarei outros causos interessantes e, talvez, menos amargor.