Recebi o número um da revista Karipuna Kult, editado pela Academia Rondoniense de Letras, Ciências e Artes – ARL, presidida pela amiga Angella Schilling, que teve a gentileza de enviar o exemplar.
Colaboram nesta edição vários dos 40 acadêmicos: José Dettoni – sendo entrevistado -, Julio Olivar, Viriato Moura, Ernesto Melo, Delcio Pereira, Rosângela Aparecida Hilário, Willian Martins, Maria Miranda, Zênia Cernov, Andrea Figueiredo e a própria professora Angela Schilling. Há poesia, pintura, música, artigos e causos, abrangendo toda a gama de cultura representada na ARL.

Lápide do túmulo de Lima Barreto, no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro ( Foto de Luciano Schmeiske Pascoal/Reprodução Pinterest)
Julio Olivar trouxe para o presente um problema recorrente no país desde que os europeus aqui chegaram: a alienação de quem é contra o sistema. Usou como exemplo o escritor Lima Barreto (“Lima Barreto – O primeiro cancelado”) para falar de política, racismo e o inconformismo com esta situação, e o Julio adverte: “Por pensar no afã de mudar o mundo e falar o que quis, Lima Barreto foi dos primeiros “cancelados” [expressão hoje comum no mundo cibernético] de que se há notícia, ignorado pela crítica e pelos editores. Calado! Silenciado!”.
Diáspora indígena

Aleks Palitot escreveu sobre o choque entre o povo Mura e os europeus no Vale do rio Madeira (Ilustra Von Martius/Reprodução)
Um outro amigo que reencontro nestas páginas, é o querido professor Aleks Palitot, que escreve sobre Historia Regional (que é um dos meus temas preferidos). Ele descreve a ocupação da região onde hoje se situa Porto Velho – capital de Rondônia – pelos povos originários, em particular os Mura e os Karipuna e, mais recentemente, os Karitiana. Palitot relata como aqueles povos tiveram dificuldades de viver com seus costumes e tradições desde a chegada dos europeus ao continente americano.
O conto “Caçada”, de Decio Pereira, é impressionante. A descrição que li da criatura encontrada pela personagem na mata, me fez arrepiar. Gostei da descrição do odor da figura avistada: “(… tinha um cheiro que fazia urubu cuspir. (…)”. Muito bom também é o mini conto “Gato cruel”, do mesmo autor. Já na página do médico Viriato Moura, “nanocontos’, compostos por um título e uma frase curta, sintetizando uma ideia em poucas palavras.
Há ainda uma sessão com os lançamentos de livros de autoria dos imortais da ARL, onde destaco Do Mar do Caribe à beira do Madeira – II, da professora Cleide Blackman, do qual já falei aqui. E também um texto sobre o ator e diretor teatral Chicão Santos – Francisco Santos Lima – uma batalhador pelas artes cênicas.

“Fantasminhas” aparecem em obtuário de homenageados pela ARL (Revista Karipuna Kult/Reprodução com intervenção)
Não cabe
As duas ressalvas à revista, na minha opinião, são a página de piadas, perfeitamente dispensável em uma publicação de uma Academia de Letras, e a ilustração no obtuário de quatro imortais – João Batista Guilherme Correia, Francisco Matias, Anísio Gorayeb Filho (o Anisinho) e Sílvio Santos (o Zekatraca). A montagem tem fantasminhas, figuras formadas com um lençol flutuando, sobre as fotos dos homenageados. Mau gosto para dizer o mínimo.
O link para acessar a publicação é https://bit.ly/3xxVLll