Desde ontem (9/2), quando recebi a notícia, estou consternado com a morte de uma pessoa que conheci há quase vinte anos. Não éramos próximos, mas eu admirava a persistência dele para encontrar uma forma para que os ribeirinhos do rio Madeira e afluentes, no município de Porto Velho, fossem lembrados pelas autoridades.

O José Melo na travessia habitual do rio Madeira, levando a produção do sítio. Na primeira foto, de 2018, um raro sorriso, pois estava sempre com cara de ranzinza. Era só disfarce (Fotos Facebook/perfil pessoal, 2018 e 2019)
Estou me referindo a José Wilson Melo, ou Melo, como era mais conhecido. Ele defendia – desde o início dos estudos para implantação dasuzina do Madeira – que como medida compensatória, os ribeirinhos tivessem uma indústria de beneficiamento do coco babaçu, administrada por uma cooperativa, que garantiria uma alternativa econômica à pesca e ao fabrico de mandioca, que dependem da sazonalidade, da época do defeso e das condições climáticas adversas. A batalha foi dura e finalmente, em 2009, foi instalada uma indústria de beneficiamento de frutas no distrito rural de Cujubim, administrado pela Coomade (Cooperativa de Agro-Extrativismo do Medio e Baixo Madeira). Não sei se ainda funciona.
O Melo tinha um sítio na localidade de Bom Jardim, no Baixo rio Madeira e produzia mandioca, açaí, banana e frutas regionais. Regularmente ele levava, de barco, a produção para vender em Porto Velho (nós comprávamos o vinho de açai produzido por ele) e publicava nas redes sociais fotos da travessia do rio.
A notícia do falecimento trágico do Melo veio por intermédio do Flávio Gonçalves (o “irmão do Cróve”): “Lembra do Melo, aquele lider comunitário, ex-presidente da Coomade? Infelizmente morreu de uma forma trágica. Sábado atrasado [28/01] ele vinha de sua comunidade, dirigindo a voadeira carregada de bananas para vender em Porto Velho. Ao cruzar [com] uma balsa carregada de soja, o motor da voadeira pifou e o possante motor do rebocador sugou a sua embarcação e o triturou. Fiquei abismado com a trágica notícia, ele tinha domínio sobre o [rio] Madeira, mas infelizmente não escapou”.
O Flávio era uma das pessoas encarregadas de fazer a interlocução do consórcio responsável pela usina com os ribeirinhos da área impactada pelo empreendimento e trabalhou muito para que o empreendimento da cooperativa se tornasse realidade.
Desde que soube da notícia, como disse no começo do texto, fiquei triste e relembrei várias conversas que tive com o Melo. Os ribeirinhos perderam um grande defensor.
Peço a Deus que dê ao Melo o lugar que merece e conforte os corações dos familiares e amigos. Amém.