O escritor português Eça de Queiros é conhecido por nós brasileiros – especialmente os da minha geração – que estudava seus textos em sala de aula. Não sei quando surgiu meu interesse por ele, que me fez ler alguns livros como Os Maias, O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A Relíquia (esse é ótimo), entre outros. Depois migrei para outros portugueses, como Camilo Castelo Branco. Em comum, ambos tinham ojeriza a brasileiros, à Igreja e à política.
Escrevo isso tudo para apresentar o texto abaixo, escrito por Eça de Queiros em 1867, que o ex-blog do César Maia enviou aos assinantes hoje. Se você substituir a palavra “Portugal” por “Brasil”, é tal e qual. Leiam, depois mandem os comentários.
“NA POLÍTICA HÁ POSTERGAÇÃO DOS PRINCÍPIOS”!
(Comunicar Preciso) 1. “Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois fatos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
2. A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se.
3. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva. À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (…) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espetáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.”