23 de novembro de 2018

O Gregório Fortunato de Mohammed bin Salman

Por José Carlos Sá

Príncipe Mohammed bin Salman não sabia de nada (Foto Bandar Algaloud/Saudi Royal Court)

As tentativas de isentar o príncipe herdeiro da Arábia Saudita Moahmmed bin Salman da responsabilidade de ordenar o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi estão ganhando força. Estas versões defendidas pelo presidente norte-americano Donald Trump atribuem a assessores a decisão de mandar matar o dissidente, por não concordarem com as acusações que Khashoggi fazia ao governo saudita. Ou seja, tomaram as dores do “chefe”.

Gregório Fortunato, atrás, de chapéu (Foto Internet)

Me lembrei de um episódio da História do Brasil, que culminou com o suicídio do então presidente da República, Getúlio Vargas. O governo getulista recebia ataques incessantes da oposição, liderada pelo jornalista Carlos Lacerda, que acusava a existência de um “lamaçal nos porões do Palácio do Catete”, que era a residência  e o local dos despachos quando a sede do governo ficava no Rio de Janeiro. Conta-se que o chefe da guarda pessoal, Gregório Fortunato*, incomodado com os ataques a Getúlio, resolveu contratar pistoleiros para eliminar Lacerda. O tiro saiu pela culatra e além da tentativa de homicídio, as investigações passaram a expor os mal feitos de familiares do presidente, que cometeu suicídio dia 24 de agosto de 1954, provocando uma comoção nacional.

* Gregório Fortunato nasceu em São Borja e a mãe dele, ex-escrava, era cozinheira da família Vargas. Gregório trabalhou como peão até se alistar em um batalhão de sua cidade para combater na Guerra Constitucionalista de 1932. Depois do confronto foi um dos escolhidos por Getúlio para compor a guarda pessoal do presidente, e passou a chefiar a guarda até o final do governo, em 1945. Depois voltaria quando Getúlio Vargas foi eleito presidente em 1951. Gregório Fortunato foi assassinado na cadeia em episódio mal esclarecido.